À chegada aos 9 meses pós-transplante, parece que volta tudo atrás.
O medo e a angústia invadem-me novamente. Parece que já me tinha esquecido de tudo, da doença dos internamentos, tudo.
Nada como uma baixa de plaquetas para nos avivar a memória e causar mais um ataque de ansiedade.
Hoje foi dia de consulta.
As plaquetas voltaram a descer. Hoje estava com 102 000, menos 10 000.
A Drª acha que foi das reduções do imunossupressor, o resto dos valores estão bem, só as plaquetas desceram.
A médica diz que as plaquetas são mais sensíveis e que demora mais a recuperar e que espera que agora estabilizem. Normal.
Normal para quem? O filho é meu e foi o bastante para ficar em pânico.
O João está óptimo. Sente-se bem e para ele está tudo bem.
Quanto ao peso, o que a médica lhe disse foi:
Três coisas João:
- Estou com pressa
- É inútil
- Perdi a esperança.
Volta 2ª feira para ver como estão as plaquetas.
Brigadas de Recolha de Dadores de Medula Óssea
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Dia +270
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4 comentários:
Sei que as recaídas são grandes sustos e só você saberá o quanto sofre com isso, mas tudo se vai recompor rapidamente.
Força :)
Andorinha, vire essa boca para lá.
Ninguém falou em recaída, pela sua riquinha saúde, já bastou ao João ter 3 tipos de leucemia diferentes para ainda ter recaídas. Além de que os polimorfismos semanais são negativos e a médica nem põe a hipótese de fazer o medulograma antes dos 12 meses.
Uma baixa de plaquetas pode ser muito grave porque o sangue demora muito mais a coagular, pelo que um corte pode provocar hemorragias e essas é que podem ser fatais.
Felizmente no IPO eles seguem os doentes à lupa e eu não passo os dias a dormir. Tenho sempre o João debaixo de olho, mesmo que isso signifique que ele fique zangado comigo por não ir ao treino, por não o deixar andar de trotineta e obriga-lo a estar quieto em casa. É para o lado que eu durmo melhor. As zangas dele não me fazem cócegas.
Recaída não, never, jamais. Bem longe de nós.
Há sempre alguma "pedra" no caminho... Quando parece que estamos a conseguir ter um tempinho sem pensar na doença, PUMBA, cai-nos uma pedra em cima.
Hoje em dia encaro-as mais com um lembrete, tipo despertador que me diz " Ok, menina, volta lá à Terra, aproveita a sorte que tens. Aproveita TODOS OS DIAS do teu filho, não sonhes, vive com a realidade e aprecia-a. Muitos não têm a mesma sorte."
Um dia, uma amiga que também passou por um transplante ( e que nos deixou na semana passada) enviou-me este poema:
" Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?·
Guardo todas, um dia vão construir um castelo..."
(Fernando Pessoa)
É mesmo Alice, estes sobressaltos trazem-nos de volta à realidade.
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