Dia +163

Os dias passam a correr.
Ontem fomos ao IPO de propósito para o João poder ir à escola.
Enquanto ele estava com as professoras eu aproveitei para por a conversa em dia com as amigas que ali fiz.
As auxiliares, as enfermeiras, as educadoras e até as médicas. Gente que nos conhece no pior momento das nossas vidas e não nos julga, não crítica.
Gente que nos limpa as lágrimas e nos dá força quando pensamos que já não as temos.
Pessoas que ficam genuinamente contentes por nos verem, que acreditam que tudo há-de correr bem.
Nunca vou esquecer a cara da Dra. quando nos deu o diagnóstico, via-se que estava muito preocupada, assim como também nunca vou esquecer a cara de felicidade que fez, quando veio a correr pelo corredor a dizer que o medulograma estava a zero.
Toda a equipa da pediatria merece tudo de bom, são pessoas fora de série.
Agora que "pertencemos" a uma equipa diferente, é sempre bom voltar à pediatria, mas só de visita.
A equipa da Utm é igualmente fantástica, mas ali é diferente. Passamos menos tempo com eles, porque passamos menos tempo no hospital, isso é bom, claro. Mas já fizemos ali amigos para a vida.
Ainda tive tempo para visitar o meu amiguinho que teve uma recaída e está isolado. Ainda não tem dador.
Mas eu acredito que o meu amiguinho vai ficar bom. Que o dador dele vai aparecer e ele ainda vai arreliar muito a esparguete.
Percebo tão bem a aflição da mãe. Recuei um ano.
Ver o João tão bem, tão "normal", até me esqueço que ele ainda corre tanto perigo. Isto é uma doença para a vida toda, acho que nunca vou respirar de alivio, vou estar sempre vigilante. Se achavam que eu.era muito "mãe-galinha", agora ainda sou pior.
Esta semana o João voltou aos treinos, tem o corpo todo dorido mas não desiste. Chega a casa de rastos, mas não desiste.
O meu filho tem esta força dentro dele, tem uma vida, uma vontade de viver enorme. Não desiste por nada.
E ainda tem boas notas. Os primeiros testes foram excelentes.