Eu adoro ler.
Ontem comprei um livro. Há um ano comprei 3 que supostamente seriam a minha leitura de férias, nem os abri e não voltei a pegar neles.
Durante este ano, no hospital e em casa não fui capaz de pegar num livro para ler. As palavras dançam à minha frente e não me entram na cabeça. Tenho que ler duas vezes para fixar seja o que for, a minha mente está muito longe.
Desisti. Não voltei a pegar em livros.
Ontem fui fazer o euromilhões com o João e vi os livros. Agarrei num e comprei-o. Li um parágrafo.
Ás vezes vejo as outras mães a ler e pergunto-me como são capazes? Como é que fazem para conseguir distrair a mente um bocado? Eu não consigo ler, não consigo fazer nada do que mais gostava de fazer, não fui capaz de arranjar o meu computador..
Hoje encontrei um pai, desesperado, o Duarte recidivou. A leucemia voltou e teve que começar tudo de novo e está a ser dificil. Para o pai, para a mãe e para o Duarte.
O Duarte tem uns 2 anos, se tanto.
É isto que me ocupa a mente. O medo. Não consigo deixar de pensar na doença, no medo que tenho de perder o meu filho.
Mas ontem comprei um livro.
4 comentários:
Não posso dizer que sei o que isso é porque não sei mesmo, só quem passa pelo mesmo pode avaliar. Mas percebo que a tua vida tenha parado no dia em que tiveste o diagnóstico da doença do João.
Espero que breve tenhas disponibilidade mental para ler esse livro e muitos outros que desejes.
Força amiga
Um grande beijo
Tité
Sandra, o meu filho fez o tx há 1 ano, 9 meses e 4 dias... e para mim, foi há cerca de 1 mês, continuamos a recuperar da vida antes do tx,do tx, e do pós- tx.
O medo continua no coração e vai lá ficar sempre, mas posso dizer que ao ires vendo a vida do João a voltar ao normal ( sim, porque os miúdos são fantásticos, a capacidade que têm em recuperar a sua vida é maravilhosa!), o medo constante que sentimos vai sendo compensado aos poucos ao assistirmos a momentos de pura felicidade quando vimos o nosso filho a jogar à bola, correr, brincar, a fazer as maiores asneiras do mundo ( no bom sentido, claro!).
Nunca recuperamos a nossa vida anterior, mas aprendemos a viver esta nova vida e a apreciar os bons momentos que esta nos dá, hoje, mais do que alguma vez apreciámos no passado.
É um processo muito difícil, a dor, a revolta, a vontade de " esganar" alguém que se queixa porque o filho isto ou aquilo e nós só queremos gritar a essa pessoa " Tens sorte em poder queixar-te disso,quem me dera puder queixar-me disso tb!", mas tudo vai melhorando dia-a-dia.
Se precisares de meia horinha só pra desabafar, sem receio de ser mal interpretada, dá-me um toque, somos quase vizinhas!
Beijos grandes e muita Força!
Alice
Estou de coração apertado e de dedos torcidos, acompanho desde há algum tempo o diário do João, e a verdade é que o teu testemunho de hoje me deixou completamente KO. A dura realidade do medo passa completamnte ao lado das pessoas PSEUDO-saudaveis. Eu vivo com Medo, desde que o meu pai morreu com um AVC, o meu pai era saudavel Sandra, e num dia acordei, e o meu pai não.
As pessoas nunca mais retomam a sua vida, a sua pernalidade intacta depois de uma fatalidade destas, fará tu, que tiveste um ano assim... na iminencia... Mas eu acredito, que as pessoas saiem sempre pessoas melhores , mais autenticas e mais sensiveis ao outro e a vida, depois de uma situação destas. E tu Sandra vais ver que o sol continua a nascer, e que o joao ainda vai gozar muito desse sol. UM XI, E obrigada por partilhares comnosco a tua vida, e as vitorias do Joninhas
Olá Sandra,
Já lá vai uns dias que não venho cá "espiar" o diário, li tudinho...hihihi.
Sabe nem sei dizer como entendo as suas palavras, seus sentimentos, sua luta.
Muitas vezes tenho a impressão de que o medo é que condiciona a minha vida. Espero que isso passe logo.
Estou muito contente com a recuperação do João que Deus continue abençoando esta plena recuperação.
Bjkas grandes
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