Brigadas de Recolha de Dadores de Medula Óssea

sexta-feira, 12 de julho de 2013

E faz precisamente 3 anos que acordamos para aquilo que viria a tornar-se o nosso pior pesadelo.
O João queixou-se dos gânglios do pescoço mas não estavam muito inchados e ele estava bem, sem febres nem mais nada de especial.
No dia seguinte
Um gânglio inchado no pescoço (desde o pescoço ao ombro, vermelho e doloroso) foi o suficiente para me deixar alarmada e correr com o João para o Garcia de Horta.
A médica que o viu achou que eu exagerei e mandou dar-lhe brufen.
Aquilo não me pareceu coisa de brufen. Não sei porquê.
No dia seguinte voltei com o João ao hospital e aí foi diferente. A equipa que o viu desconfiou logo de um linfoma ou leucemia.
Marcou tudo com o IPO e foi o princípio do fim.
5a feira estavamos no IPO a fazer exames e na 6a ninguém queria acreditar nos resultados.
Até para outros laboratórios enviaram as lâminas para terem a certeza daquilo que estavam a ver.
Leucemia rara. Daquelas que nunca ninguém tinha visto.
Tiveram que ir procurar maneira de o tratar.
Nunca vou esquecer as palavras da Dra Ana: nem sabemos como é que o vamos tratar.
O resto é história, como se costuma dizer. Mais pesadêlo, dor sem fim, noites a fio a chorar, noites e dias sem dormir a tentar absorver todos os momentos, todos os minutos, todos os segundos.
Esta maldita leucemia tirou-nos tudo.
A vontade de viver, as forças, as relações, o dinheiro, até os cães. Nem esses escaparam.
Acima de tudo tirou-nos o nosso bem mais precioso. O nosso querido e adorado filho. O nosso menino, sempre bom menino, excelente aluno, sorridente, brincalhão. O meu companheiro de todas as horas. Que sabia o que a mãe sofria em silêncio e me animava sempre com as suas piadolas.
A minha vida, a minha razão de viver.
Pediu-me para partir. Disse-me que já não aguentava mais e eu disse-lhe para ir. Não aguentava mais vê-lo a travar uma guerra perdida e a ficar sem forças.
Agarrei no meu bebé, voltei 11 anos atrás e em vez de lhe dar as boas vindas ao mundo, disse o quanto o amava, todos os dias lho dizia, que tenho o maior orgulho nele e que é um previlégio ser mãe dele.
Ele disse: mamã, mamã.
As últimas palavras dele foram para a mãe, assim como o primeiro choro.
Quase 5 meses sem ti tem sido uma tortura. Só ontem consegui limpar o pó ao teu quarto pela 1a vez. Chorei enquanto limpava os teus brinquedos. Aqueles que eu sei que nunca mais vais voltar a brincar.
As saudades são esmagadoras e só quem passou pelo mesmo consegue perceber a verdadeira dimensão da dor. Da dor de ser mãe sem filho.

3 comentários:

Margaça disse...

Não tenho palavras para ti, sei que nada faz sentido, mas quero dizer-te mais uma vez que estou aqui para ti, da maneira que precisares, da maneira que entenderes.

Não insisto mais porque não quero invadir o teu espaço, mas estás sempre no meu coração.

Coragem amiga, coragem.

zavi disse...

Um abraço sem palavras. Porque não as há em alturas como estas.

Rita Carvalho disse...

Olá Sandra,

Todos os dias a leio desde que descobri o seu blogue. Não foi isso que me fez ser dadora de medula (ou inscrita para tal) porque já o era. Mas foi o seu apelo e o apelo da Silvina que me fez andar por aqui durante todo este tempo. O blogue da Silvina ainda o acompanhei após ela ter deixado de escrever durante algum tempo, agora deixei. Apesar de não a conhecer, aquela última descrição do seu estado é tão dolorosa que me pareceu melhor abandonar aquele último post e guardá-lo apenas na memória.

O seu vejo-o todos os dias. Não a conheço. Não vivo perto de si. Não conheço nada mais a não ser o que foi e vai escrevendo. Mas sinto-me muito próxima de si. Tenho um filho, um João. Para já saudável. Que espero que seja sempre saudável. E nos seus relatos encontrei muita coisa. A certeza de alguns dias não o aproveitar como devia, porque entre as birras e outras tantas coisas às vezes fico aborrecida e cansada. A certeza de que tenho uma sorte fantástica. A certeza de que o seu sofrimento escondido na tentativa do João ficar melhor é absolutamente magnânime.
Todos os dias penso um bocadinho em si e no João e, apesar de realmente não lhe ser nada, acredite que não o esquecerei tão cedo. Não só pelo medo, pelo alerta maior que agora tenho a pequenos sinais, mas pela esperança, pelo trabalho que fez na construção de um ser humano que mutilado pelo sofrimento continuava a sorrir para as fotografias, a brincar, a estudar e a ser criança.
Obrigada pela partilha. Espero que continue por cá. Acho que é uma boa forma de reciclar o que sente (ou o vazio que não sente) e de o manter mais próximo.
Apesar da distância e do desconhecimento, acredite que há muita gente que pensa em si com muito carinho todos os dias.
Um abraço,
Rita