E faz precisamente 3 anos que acordamos para aquilo que viria a tornar-se o nosso pior pesadelo.
O João queixou-se dos gânglios do pescoço mas não estavam muito inchados e ele estava bem, sem febres nem mais nada de especial.
No dia seguinte
Um gânglio inchado no pescoço (desde o pescoço ao ombro, vermelho e doloroso) foi o suficiente para me deixar alarmada e correr com o João para o Garcia de Horta.
A médica que o viu achou que eu exagerei e mandou dar-lhe brufen.
Aquilo não me pareceu coisa de brufen. Não sei porquê.
No dia seguinte voltei com o João ao hospital e aí foi diferente. A equipa que o viu desconfiou logo de um linfoma ou leucemia.
Marcou tudo com o IPO e foi o princípio do fim.
5a feira estavamos no IPO a fazer exames e na 6a ninguém queria acreditar nos resultados.
Até para outros laboratórios enviaram as lâminas para terem a certeza daquilo que estavam a ver.
Leucemia rara. Daquelas que nunca ninguém tinha visto.
Tiveram que ir procurar maneira de o tratar.
Nunca vou esquecer as palavras da Dra Ana: nem sabemos como é que o vamos tratar.
O resto é história, como se costuma dizer. Mais pesadêlo, dor sem fim, noites a fio a chorar, noites e dias sem dormir a tentar absorver todos os momentos, todos os minutos, todos os segundos.
Esta maldita leucemia tirou-nos tudo.
A vontade de viver, as forças, as relações, o dinheiro, até os cães. Nem esses escaparam.
Acima de tudo tirou-nos o nosso bem mais precioso. O nosso querido e adorado filho. O nosso menino, sempre bom menino, excelente aluno, sorridente, brincalhão. O meu companheiro de todas as horas. Que sabia o que a mãe sofria em silêncio e me animava sempre com as suas piadolas.
A minha vida, a minha razão de viver.
Pediu-me para partir. Disse-me que já não aguentava mais e eu disse-lhe para ir. Não aguentava mais vê-lo a travar uma guerra perdida e a ficar sem forças.
Agarrei no meu bebé, voltei 11 anos atrás e em vez de lhe dar as boas vindas ao mundo, disse o quanto o amava, todos os dias lho dizia, que tenho o maior orgulho nele e que é um previlégio ser mãe dele.
Ele disse: mamã, mamã.
As últimas palavras dele foram para a mãe, assim como o primeiro choro.
Quase 5 meses sem ti tem sido uma tortura. Só ontem consegui limpar o pó ao teu quarto pela 1a vez. Chorei enquanto limpava os teus brinquedos. Aqueles que eu sei que nunca mais vais voltar a brincar.
As saudades são esmagadoras e só quem passou pelo mesmo consegue perceber a verdadeira dimensão da dor. Da dor de ser mãe sem filho.
Brigadas de Recolha de Dadores de Medula Óssea
sexta-feira, 12 de julho de 2013
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3 comentários:
Não tenho palavras para ti, sei que nada faz sentido, mas quero dizer-te mais uma vez que estou aqui para ti, da maneira que precisares, da maneira que entenderes.
Não insisto mais porque não quero invadir o teu espaço, mas estás sempre no meu coração.
Coragem amiga, coragem.
Um abraço sem palavras. Porque não as há em alturas como estas.
Olá Sandra,
Todos os dias a leio desde que descobri o seu blogue. Não foi isso que me fez ser dadora de medula (ou inscrita para tal) porque já o era. Mas foi o seu apelo e o apelo da Silvina que me fez andar por aqui durante todo este tempo. O blogue da Silvina ainda o acompanhei após ela ter deixado de escrever durante algum tempo, agora deixei. Apesar de não a conhecer, aquela última descrição do seu estado é tão dolorosa que me pareceu melhor abandonar aquele último post e guardá-lo apenas na memória.
O seu vejo-o todos os dias. Não a conheço. Não vivo perto de si. Não conheço nada mais a não ser o que foi e vai escrevendo. Mas sinto-me muito próxima de si. Tenho um filho, um João. Para já saudável. Que espero que seja sempre saudável. E nos seus relatos encontrei muita coisa. A certeza de alguns dias não o aproveitar como devia, porque entre as birras e outras tantas coisas às vezes fico aborrecida e cansada. A certeza de que tenho uma sorte fantástica. A certeza de que o seu sofrimento escondido na tentativa do João ficar melhor é absolutamente magnânime.
Todos os dias penso um bocadinho em si e no João e, apesar de realmente não lhe ser nada, acredite que não o esquecerei tão cedo. Não só pelo medo, pelo alerta maior que agora tenho a pequenos sinais, mas pela esperança, pelo trabalho que fez na construção de um ser humano que mutilado pelo sofrimento continuava a sorrir para as fotografias, a brincar, a estudar e a ser criança.
Obrigada pela partilha. Espero que continue por cá. Acho que é uma boa forma de reciclar o que sente (ou o vazio que não sente) e de o manter mais próximo.
Apesar da distância e do desconhecimento, acredite que há muita gente que pensa em si com muito carinho todos os dias.
Um abraço,
Rita
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